“Estávamos no ano de 1899 da era de Nosso Senhor Jesus Cristo, paroquiava a Freguesia de Cortes do Meio o Reverendo Padre Joaquim da Silva Gonçalves, ilustre conterrâneo dos Cortenses, e orgulho maior da jovem freguesia, acabada de nascer. Homem culto, benevolente e de convicções precisas, alimentava no espírito uma ideia: Fundar na freguesia de Cortes do Meio uma banda filarmónica, e do sonho à realidade, foi um passo. Pensou… e assim agiu. Segundo o relato dos nossos antepassados, num célebre dia do dito ano, de 1899, o Reverendo Padre Silva, sem que nada o fizesse esperar, pegou num clarinete e deu volta as ruas da freguesia a tocar, fazendo-se acompanhar de um tal senhor João Lisboa, que tocava uma caixa. Os paroquianos desceram à rua, para ouvir e manifestar de perto a sua alegria e encantamento, por tão brilhante iniciativa. Por entre aclamações de júbilo dos populares, o ilustre Prior, foi lançando a ideia de criação de uma banda filarmónica na freguesia, que logo foi aceite com caloroso entusiasmo pelos paroquianos, (já desaparecidos), a quem se presta merecida homenagem. Não obstante o entusiasmo e as boas intenções pessoais, surgiram a princípio algumas dificuldades na instalação da Banda, principalmente por razões de ordem económica. É conhecido o estado de carência em que as pessoas viviam à época, e o ingresso na banda, foi condicionado inicialmente à compra do necessário instrumental, pelo próprio Padre Silva – avaliado ao que parece por duas libras em ouro ou nove escudos, que na altura tinha muito valor. A título de curiosidade, referem-se como primeiros fundadores da banda os senhores: Joaquim Bartolomeu, Francisco Marques, José Alves Carrola e Francisco Poeta… entre outros. Nos anos seguintes, há relatos de que, algumas das pessoas chegaram até a vender parte dos rebanhos para conseguirem comprar mais instrumentos e formar músicos. Ultrapassadas as dificuldades, passou-se à ação, e honra seja feita: o senhor Padre Silva, ficou célebre como o fundador e primeiro mestre da banda, à frente da qual se manteve, com brio e por vários anos. Ao Senhor Padre Silva, sucedeu o seu irmão: senhor José Gonçalves Silva, homem igualmente culto e com bons conhecimentos musicais, o qual se assumiu como mestre da banda durante algum tempo. Divergências de vária ordem, não excluindo razões económicas, foram criando entre os músicos um clima de desconfiança e hostilidade em relação ao mestre José Gonçalves, levando à dissolução da banda, de forma algo insólita: – Um dia, quando se reuniam no salão habitual (junto à fonte pública), para os ensaios do costume, um a um, os músicos foram saindo, às escondidas do mestre, com o respetivo instrumento; indo de seguida reunir-se numa outra casa, sob a orientação de um mestre por eles escolhido de comum acordo, que na circunstância recaiu sobre o senhor José Alves Carrola, que durante muitos anos se assumiu como mestre, com competência e mérito. De salientar que com o mestre Alves Carrola, integravam a música mais três irmãos desse, o que, como é óbvio, terão influenciado na decisão da sua escolha. Um certo dia, a Banda, em cumprimento dos seus compromissos, foi tocar à Covilhã, onde, por razões de programa, teve necessidade de pernoitar. Como alguns músicos perturbaram o silêncio durante a noite, de forma ousada e abusiva, o mestre fez alguns apelos à calma, para que se pudesse dormir, tendo sido desrespeitado por alguns músicos mais insubordinados. Profundamente ofendido na sua dignidade, e sem um pedido de desculpas, na manhã seguinte, o mestre Alves Carrola e os seus três irmãos, abandonaram a banda e regressaram a sua terra. Nesse dia, a Banda, à revelia do mestre, assumiu o compromisso de tocar, sob a orientação do músico: Joaquim Esteves da Silva, (mais conhecido por Joaquim Antunes), que a partir de então passou a ser o mestre, e por muitos anos, com reconhecido valor. O povo da Covilhã aplaudiu calorosamente a banda sob orientação do “novo mestre”, dizendo entusiasmado, que nem se notava a falta dos outros elementos. O ex-Mestre Alves Carrola, auto admitido, mas com um grande talento e paixão, não se resignou e foi fundar a Banda da Bouça, que durante alguns anos viveu em constante represália contra a banda das Cortes. Acresce salientar que os músicos antigos eram extremamente bairristas. Trabalhavam por amor à farda, e não se poupavam a sacrifícios para levar a nossa cultura musical as terras vizinhas, que as vezes ficavam a muitos quilómetros de distância. Se ser músico já exigia esforço e sacrifício, ser mestre, requeria uma dedicação redobrada, que se traduzia em muitas horas de trabalho e muitos dias e noites perdidas. Para precaver alguns custos e esforços desmedidos, o mestre Antunes, propôs à direção da banda, que lhe fosse pago um suplemento de quatrocentos escudos anuais, para continuar a dirigir os destinos da filarmónica, como mestre. A princípio, não houve qualquer contestação por parte dos elementos da banda. Alguns anos depois, os músicos começaram a cansar-se do mestre, mais uma vez, e tomaram mesmo algumas atitudes menos dignas, chegando ao ponto de assumir compromissos para uma festa, sem o conhecimento do mestre. Este, avisado inatempadamente, não respeitou compromissos assumidos arbitrariamente, argumentando falta de ensaio para a preparação da banda. À revelia do mestre Antunes, os músicos saíram sozinhos e foram fazer a festa à Freguesia de Unhais da Serra. Lá, nomearam o mestre adoc, na circunstância o senhor Joaquim Bartolomeu, que beneficiando de um mínimo de preparação dos músicos, se portou razoavelmente. Em solidariedade com o mestre Antunes, mantiveram-se os dois irmãos deste e alguns filhos. No regresso, os músicos ficaram revoltados com o mestre Antunes e seus irmãos, e a direção da banda quis obrigá-los a entregar a farda e a pagar as Letras por que eram responsáveis, no valor de duzentos e cinquenta escudos. A família Antunes, comprometeu-se a entregar a farda, mas recusou-se a pagar as Letras, já que em seu entender não foram eles que decidiram abandonar a banda. Perante isto, a direção, decidiu que os Esteves podiam continuar na banda, mas o senhor Joaquim Antunes perdia o lugar de mestre. Entretanto, a direção contatou um novo mestre fora da freguesia, e no domingo seguinte, o Mestre António (como se chamava), apresentou-se no ensaio. Os fracos conhecimentos musicais deste, suscitaram-lhe algumas dúvidas e muita dificuldade em ensaiar alguns números, tendo mesmo sendo advertido pelo ex-Mestre Antunes, que por aquele caminho, nunca chegaria a ensaiar os números em causa… o que, como é óbvio, lhe causou um grande embaraço. No final do ensaio o mestre António, recém contratado para dirigir a banda, queixou-se a direção dizendo que duas mestras num cortiço não funcionavam: portanto, ou saía o senhor Mestre Antunes ou saía ele Mestre António. Confrontada com esta sugestão a direção decidiu-se pela saída dos Esteves sem o pagamento das Letras. A banda ficou então entregue ao Mestre António, mas por pouco tempo… já que o contrato dele implicava uma despesa considerável e algo desajustada às disponibilidades financeiras das pessoas. Algum tempo depois, a direção da Banda, acompanhada de alguns músicos mais conceituados, foram a casa do Mestre Antunes apresentar as desculpas, e convidá-lo a reconsiderar, ou melhor, a disponibilizar-se para dirigir de novo a Banda das Cortes. O bairrismo e a sua grande paixão pela música, levaram novamente o Mestre Antunes a assumir o lugar de Mestre da Banda, não obstante o esforço e sacrifício que isso lhe acarretava. Pouco tempo depois, já se preparava a rebelião que viria a por fim definitivo à carreira do Mestre Antunes, enquanto mestre da banda. Grande parte dos elementos da música era operária na fábrica de Unhais da Serra. Não se sabe se por diferença de classe ou outra qualquer razão, o certo é que o Mestre Antunes não era bem visto pelos operários. A caminho da fábrica e no regresso, os operários foram ensaiando a maneira de excluir o referido Mestre e pensando no substituto para a ocupação do lugar. E se bem o pensaram, melhor o fizeram. A conspiração estava planeada e o mestre escolhido. Num determinado domingo, os músicos operários, chegaram primeiro ao ensaio, e quando o Mestre Antunes chegou já se encontravam a tocar. Quando este entrou na sala e se preparava para tomar lugar, os ditos músicos exclamaram: – Não foi isto que se combinou… e saíram em bloco para a rua. Ao ver-se defraudado, o Mestre Joaquim Antunes, abandonou a sala e retirou-se. Os músicos revoltosos reentraram então no ensaio e continuaram a tocar, já sob a orientação do novo mestre: Senhor José Quintela Grancho. Isto, pelo ano de 1950 sensivelmente até à década de 70 do século passado, crescendo e não parando a atividade. Depois deste, seguiu-se um interregno de alguns anos, causado pela busca de uma vida melhor noutros países que cativou muitos dos elementos. Mas, e porque o bairrismo imperou, mais uma vez alguns populares se juntaram, tomando Júlio Ramos Barata a liderança do projeto e dando-lhe novamente vida, a Banda recomeçou as atividades em (7-09) 1977. Deste ressurgiu das cinzas a direção artística ficou entregue às mãos do Maestro de Bandas Militares, o Sargento-ajudante Senhor José Pires Grancho, a quem se reconhece merecido esforço e se presta a merecida homenagem. A partir de meados de 1988, a Banda das Cortes passou a ter também um regente ajudante Senhor António Marques Pão Alvo, que tinha iniciado os seus estudos musicais na Escola de Música da Filarmónica Recreativa Cortense por intermédio do seu professor e Maestro José Pires Grancho, com o qual adquiriu grande parte dos seus conhecimentos musicais. Foi executante de Bombardino, posição que ocupou conjuntamente com a de regente ajudante até que, em 1991 passou a ocupar o lugar de regente principal da Filarmónica Recreativa Cortense, posição que ocupa com bastante brio e dedicação até aos dias de hoje.

Esta, é a pequena história de uma grande coletividade e que tem para nós um duplo significado: Estimular o entusiasmo dos vivos e venerar os mortos. VIVA A BANDA DAS CORTES!”

(Relato de António Esteves da Silva em 19/05/1997)

Em1996, a Filarmónica Recreativa Cortense, é transformada numa associação legalizada.

Em 1999 (ano da celebração do centenário da sua fundação) mediante um projeto financiado no âmbito do LEADER II/ADERES, na ordem dos 7 mil contos, em que se adquiriu um instrumental novo e um fardamento novo.

12-07-2003, participação aos associados da intenção da aquisição de terreno para a construção da nova sede social. Começaram-se os procedimentos para a construção da nova sede social da FRC

06-02-2004. Autorização da Assembleia Geral para a aquisição de um dos terrenos para a nova sede social

13-02-2004. Autorização da Assembleia Geral para a aquisição do segundo terreno (contíguo ao outro) para a construção da nova sede social

12-11-2004. Autorização da Assembleia Geral para a elaboração e apresentação de uma candidatura ao Programa Leader +, para financiamento da 1ª fase de construção da nova sede social

24-07-2005. Lançamento da 1ª pedra das obras de construção do futuro edifício/sede da Filarmónica Recreativa Cortense onde esteve presente o Sr. Deputado Dr. Vítor Pereira, o Sr. Presidente da Junta de Freguesia de Cortes do Meio, o Sr. Presidente da Assembleia de Freguesia de Cortes do Meio, a Comunicação Social e Diretores e representantes das Associações da Freguesia e claro está os músicos da FRC que precederam o ato com um arruada e um pequeno concerto no local.

Agradecimento à ADERES, tanto na elaboração do projeto de arquitetura, como no financiamento em 55% as obras da 1ª fase de construção do Edifício/Sede da FRC, que importaram num total de 100.000 Euros.

17-12-2005. Autorização pela Assembleia Geral para a contração de um empréstimo de 50.000€ para suportar a parte do autofinanciamento da construção da sede FRC

17-02-2006. Nomeação do Sr. Júlio Ramos Barata como Presidente Honorário da FRC, ele que foi o timoneiro da FRC desde 1977 (data da reconstituição da FRC). Foi um dos principais impulsionadores, para que a “Banda das Cortes” após um interregno de alguns anos, se colocasse de pé em 1977.

11-11-2007. Inauguração da 1ª fase de construção (108º aniversário da FRC)

10-01-2009, deram-se início dos trabalhos de construção da 2ª fase da Sede da F.R. Cortense. Foi num dia pouco convidativo, derivado ao frio e á neve, que uns voluntários da filarmónica puseram, mesmo no sentido da frase, “mãos à obra”, isto porque quando a vontade impera e prevalece não há nada a temer. Foi um dia onde reinou a alegria e a entreajuda por parte de todos onde se começaram a ver definidas a sala de ensaio, as casas de banho, o bar… Já nos dois fins-de-semana seguintes ficaram quase concluídos os trabalhos de alvenaria.

23(?)-08-2009 (Festa de N.ª Sr.ª Carmo – Cortes do Meio) Regente António Pão Alvo apresenta a sua demissão de Diretor Artístico da Filarmónica, com efeito a partir do dia 13 de Setembro, dia da última festa já contratualizada.

18-09-09 Reunião interna da Filarmónica Cortense, após o pedido de demissão do seu Diretor Artístico. Estiveram presentes quase a totalidade dos seus elementos, por motivos de saúde, não pode estar presente o Presidente, Júlio Ramos Barata.

Depois de muito debate e de confronto de pontos de vista, chegou-se a um consenso que culminou com a continuidade do “Mestre” António Marques Pão Alvo.

16-11-2009. Foi atribuído o nome do fundador da FRC, Padre Silva, à rua da nova sede da Filarmónica.

13-11-2011. Inauguração da 2ª fase e início do funcionamento da FRC na nova sede social (1012º aniversário da FRC).

07-11-2014. Aquisição de viatura de 9 lugares da FRC

23-10-2015. A FRC foi uma das vencedoras do Orçamento Participativo de 2016 da CM da Covilhã, com o montante de 67.500,00€, e que constava no orçamento do Projeto nº58 – Construção da 3º fase da sede da FRC, apresentado ao Covilhã Decide 2016. (Será o ponto de partida para a 3ª fase de construção da sede da FRC.) Após a apresentação de uma contestação dos resultados, a candidatura ficou suspensa.

20-11-2015. Nomeação e apresentação, pela Direção Pedagógica da FRC, do músico Fábio Pereira como mestre ajudante.

Pastores 2016 (31-9, 1 e 2-10) A FRC realizou, pela primeira vez, um evento de cariz regional e de homenagem a uma ainda tradição de um povo, a pastorícia.

“Nunca na terra se vira tanta gente”, “estais (FRC) de parabéns”, “continuai”, “p´ro ano contai comigo”… foram umas das frases mais ouvidas pelos cortenses e pelos forasteiros da região. Sem dúvida um evento marcante na associação e na freguesia, que mobilizou praticamente todos os seus habitantes, pondo de parte qualquer divergência a todos os níveis, unindo-se em prol do bem receber e de animar a mostra. Se a associação ainda necessitasse de se afirmar na freguesia e na região, este seria o ponto chave.

01-12-2016. Participação no 5º Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas, nas comemorações do 1º de Dezembro, em Lisboa, em representação do Concelho da Covilhã. Primeira participação da FRC num evento a nível nacional.

Fins de 2016 princípio de 2017 – Proposta pela Direção da FRC para troca de cargos na Direção Musical da FRC: inversão de cargos, atual regente António Pão Alvo passaria para mestre ajudante e Fábio Pereira para mestre principal. Processo que esbarrou com uma intransigência constante do mestre António Pão Alvo ao qual a Direção da FRC indicou que só continuaria nos moldes pretendidos e que acabou pela saída em choque do mestre António Pão Alvo com a Direção e músicos da FRC.

Janeiro de 2017, um mês que ficará marcado na longa História da Filarmónica Cortense!

Após 33 anos de grande dedicação à Filarmónica Cortense, António Marques Pão Alvo, deixa o lugar de regente da Filarmónica Cortense. Lugar que ocupou com brio, dedicação e espírito voluntarista desde 1988, primeiro como ajudante do Maestro Pires, ocupando após 1992 o lugar de forma autónoma.
Se a Filarmónica hoje existe e é o que é hoje, muito se deve a todo o seu trabalho, empenho e dedicação

Janeiro de 2017. Após a saída do mestre António Pão Alvo, Fábio Pereira assumiu a Direção Musical da FRC.

Março de 2020, mês em que se instalou a pandemia do COVID-19 e fez parar a atividade de todo o mundo. Na FRC foi no mês em que se preparavam as festas e romarias que se iniciariam no mês seguinte, e que se suspenderam por tempo indeterminado.

10-11-2021 – Aquisição de um autocarro de 26 lugares (122º aniversário da FRC).

Realização conjunta de dois concertos com o Coro do Orfeão da Covilhã (dia 25-3-2023, concerto “Stabat Mater”, em Cortes do Meio e dia 22-03-2023, concerto de Páscoa, em Peraboa)

4-06-2023 – estreia da Filarmónica Recreativa Cortense em apresentação teatro musical, na interpretação da peça “Sforzando”, de Mafalda Saloio, integrada no “Festival Y”, da Quanta Parede.

Ano de 2024, ano em que a Filarmónica Recreativa Cortense celebra o 125º aniversário da data (oficial) da sua fundação e que conta com uma intensa programação com cerca de meia centena de actividades agendadas durante o ano, onde se destacam a participação em diversos encontros de bandas a nível nacional (Figueira da Foz (6/4), Castelo Branco (4/5), Malveira da Serra – Sintra 26/5), Oleiros (23/6), São Romão – Seia (13/7), Covilhã (22/9)).

A primeira presença em palco no Teatro Municipal Castelo Branco (encontro de bandas, 4/5) e no Teatro Municipal da Covilhã, num espetáculo em interpretação conjunta com o Rancho Folclórico da Boibobra (comemoração do centenário da Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto (28/5)).

Reposição do espetáculo “Sforzando”, em Belmonte (9/7)

Arraial Popular 2024 (20/07)

(em atualização…)